Alice Através do Espelho

Em 2018, lá se vão cento e vinte anos da morte do criador de Alice, o genial Lewis Carroll, dono de uma imaginação excepicional, mestre em trabalhar com uma linguagem rica em sutilezas. Sua obra – aparentemente destinada a um público infantil – é repleta de jogos enigmáticos e anagramas poéticos, cheia de situações absurdas e paradoxais. E ele mesmo brincava com isso, dizendo-se um “escritor meio esquisito que escreve umas histórias sem pé nem cabeça”.

Lewis – ou Charles Dodgson (seu nome verdadeiro) criou mundos feitos de inversões e investigações filosóficas. Numa palavra, fez “jogo” em literatura.

Alice Através do Espelho ruma pela mesma trilha: quer fazer teatro de jogo. Diversão e filosofia. Para isso, a encenação construiu uma espécie de “caixa mágica”, onde os sonhos de Alice se confundem com as alucinações do público. O país das maravilhas se transforma num divertido sanatório, onde todos os sonhos são possíveis.

Num espaço que privilegia as sensações, a idéia é criar uma cumplicidade, percorrer um trajeto em companhia da heroína (no caso, Alice). Imagens, cheiros, sons, toques – em suma, sensações – fazem esse pequeno mundo aliciante.

Paulo Mendes Campos, num belo texto sobre “Alice no País das Maravilhas” diz “esse livro é doido. Isto é: o sentido dele está em ti”. Esse sentido de experiência, de compreensão concreta das aventuras de Alice é que me guiaram na busca pela forma de contar uma história já tão conhecida.

Alice é assim. Possui a vontade de tirar o espectador da realidade imediata e coloca-lo na arena da imaginação, onde lógica e delírio jogam com a razão e a loucura. Um jogo onde o teatro abandona as formas tradicionais para incorporar o espectador como cúmplice de um fato estético. Não é mais um espetáculo. É um espelhotáculo.

Paulo de Moraes (diretor)

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Críticas

“O espetáculo possui uma alegria e uma vitalidade que há muito estavam ausentes da cena teatral contemporânea. Diretor e atores apresentam uma leitura do clássico de Lewis Carroll que está mais próxima da de um John Lennon, poeta confessadamente influenciado pelo autor de Alice..., do que das açucaradas versões que teimam em apaziguar a radicalidade da experiência e dos questionamentos de linguagem presentes no livro.
A perfeita tradução do clima nonsense de “Alice...” para o espaço cênico começa na construção de uma espécie de caixa mágica, cheia de saídas inesperadas e subterfúgios estranhos em lugar do palco tradicional. Os espectadores são convidados a atravessar um espelho, sofrem uma vertiginosa e deliciosa queda até outro palco, que se divide em mais um e mais outro, até que tenham perdido completamente a noção de onde estão realmente, sentindo na pele a sensação de Alice ao se defrontar com um mundo tão especial. (...)
Liliana Castro, no papel de Alice, é intensa e irradia boa parte da emoção do espetáculo, mas todos os atores, com ótimos desempenhos, dividem com ela esse mérito. Mas não há como não destacar o carisma de Patrícia Selonk, no papel do Chapeleiro Maluco, e a esplêndida Rainha de Simone Mazzer. (...)
Mas todo o conjunto de acertos precisa ser bastante creditado ao talentossíssimo Paulo de Moraes, responsável pela concepção de espaço cenico, pela direção, pela iluminação e pela trilha sonora.(...)
Maurício Arruda Mendonça, que assina a dramaturgia, faz parte daquela vertente que vê no poder subversivo da poesia, um potencial de alegria, uma celebração das forças vitais contra o marasmo e a caretice.”

A alegria subversiva de Alice
Carlito Azevedo (crítico de teatro, Revista Bravo)

 

“Paulo de Moraes e a trupe da Armazém Companhia de Teatro decidiram tentar o impossível. Resolveram proporcionar ao espectador de teatro as mesmas sensações e emoções por que passa a pequena Alice, personagem de Lewis Carroll, quando ela mergulha em uma toca de coelho, cai num buraco interminável e, lá em baixo, encontra um país fabuloso. Espantoso é que a Armazém conseguiu exatamente o que pretendia.(...)
Criaram um roteiro inteligente, sofisticado, divertido e perturbador, que mistura passagens dos livros infantis do autor com suas cartas e diários. A sugestão de loucura, que perpassa as obras do autor de Alice, é incorporada ao espetáculo, que parece situar o país das maravilhas em um hospício. (...) A encenação recorre a um cenário genial, composto por cortinas que se abrem e fecham, formando salas, jardins, florestas e verdadeiros labirintos. O público acompanha tudo embevecido e aturdido. Para Paulo de Moraes, a viagem de Alice da infância para a adolescência é, na verdade, um mergulho no sentido das coisas, do mundo, da vida.(...)
O conjunto de atores bem preparados, talentosos e hábeis é encabeçado pela excelente Patrícia Selonk, como o Chapeleiro Maluco, e por Liliana Castro, que vive a protagonista.
Alice Através do Espelho é teatro da maior qualidade. E é também uma aventura da qual os espectadores, por certo, não vão se esquecer.”

Montagem inteligente cativa a plateia
Alberto Guzik (crítico de teatro, Jornal da Tarde - São Paulo)


“(...) Ao reelaborar o espaço, ao exigir do público uma participação ativa na sequência do espetáculo e na capacidade de trabalhar o texto em confluência com discussões lingüísticas, biográficas e até filosóficas, o grupo dirigido por Paulo de Moraes marca um lugar na cena contemporânea. E o que é melhor, com uma delícia de espetáculo. Destes que pega pela emoção para deixar o público pensando. (...)
A construção do texto de Alice Através do Espelho é arguta para fugir de reducionismos e aproveitar todas as sugestões interessantes desta tradição. O mais preciso equilíbrio conseguido pela dramaturgia está na capacidade de fazer conviver três níveis: o da história, o do sonho e o da sugestão de um manicômio, que retomaria a realidade. (...)
A Alice de Liliana Castro é doce e provocante. Patrícia Selonk dá ao Chapeleiro Maluco o carismo exato e a sensação de que existe um enigma a ser decifrado. Simone Mazzer, no papel da Rainha, tem toda a força e destempero da personagem, amedrontando a todos como um sonho mau, destes que não queremos largar. Todo o elenco tem trabalhos de voz e corpo bem estruturados e ajudam a conduzir a atenção no labirinto de panos e cortinas que se torna o espaço mágico da peça em suas dezenas ambientações, que exigem a movimentação continuada da platéia. Tudo conspira para que a obra de Carroll seja vivenciada como uma criação de superfície. Os vários planos da montagem não se sobrepõe mas alargam a sensibilidade como um mapa que fosse sendo desenrolado, fazendo coincidir ponto a ponto a representação e a realidade. É desta forma que o teatro invade a vida.”

Um mergulho no sentido
João Paulo Cunha (crítico de teatro, Estado de Minas - Belo Horizonte)


“(...) Alice...” leva o público por um torvelinho de sensações: a sensualidade sem culpa, a capacidade de se reinventar no imaginário, o prazer de se lançar no escuro.
A peça acompanha por espaços mágicos essa menina-moça perdida em uma encruzilhada da vida, que Liliana Castro faz com delicadeza e garra, tirando partido de sua beleza. Mas não deixa de compartilhar a aventura, pois a seu lado estão atores como Patrícia Selonk, que faz um lisérgico Chapeleiro Maluco; a poderosa rainha, Simone Mazzer; e Sérgio Medeiros, um Lewis Carroll emocionante na sua fragilidade.
A adaptação de Paulo de Moraes tira partido do País das Maravilhas fazendo pontes com temas atuais ao apresentar o adolescente diante do fascínio pelo sexo, pelas drogas, pela loucura. Sob o maravilhamento com os cenários múltiplos, o figurino e as canções vibra uma angústia subterrânea. (...)”

Alice Através do Espelho e peça de Antunes dialogam em Festival
Sérgio Salvia Coelho (crítico de teatro, Folha de São Paulo)


Ficha Técnica

Inspirado na obra de Lewis Carroll

Direção: Paulo de Moraes
Dramaturgia: Maurício Arruda Mendonça

Elenco:
Carolina Kasting / Liliana Castro / Lisa Eiras (Alice)
Patrícia Selonk (Chapeleiro Maluco)
Simone Mazzer (Rainha)
Sergio Medeiros (Dodgson)
Maurício Grecco / Marcelo Guerra / Jopa Moraes (Gato Que Ri)
Simone Vianna / Verônica Rocha / Andressa Lameu (Lebre no Cio)
Felipe Grinnan / Marcos Martins (Lagarta)
Ricardo Grings / Ricardo Martins (Rei)
Flávia Menezes (Dormundongo)
Ana Paula Pedro / Isabel Pacheco (Duquesa)

Concepção de Espaço Cênico: Paulo de Moraes
Cenografia: Paulo de Moraes e Gelson Amaral
Figurinos: João Marcelino
Adereços: Gelson Amaral
Iluminação e Trilha Sonora: Paulo de Moraes
Fotografias: Mauro Kury
Projeto Gráfico Original: Maurício Grecco
Produção Executiva: Flávia Menezes 
Patrocínio: Petrobras
Produção: Armazém Companhia de Teatro


Turnê

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